Tostão de chuva
No sertão do Cariri
Certo tempo um fazendeiro
fez uma carta a meu padrinho
E mandou por um romeiro
Comprando um tostão de chuva
Ao padre do Juazeiro
Dizia a carta citada
Seu padre Cícero Romão
Dizem que és milagroso
Cumpra a sua obrigação
Me mande um tostão de chuva
Pra aguar minha plantação
Que o meu gado está morrendo
E minha plantação se acabando
Meu dinheiro sem valor
Minhas barragens secando
E estes romeiros bestas
Em você acreditando
Certo tempo um fazendeiro
fez uma carta a meu padrinho
E mandou por um romeiro
Comprando um tostão de chuva
Ao padre do Juazeiro
Dizia a carta citada
Seu padre Cícero Romão
Dizem que és milagroso
Cumpra a sua obrigação
Me mande um tostão de chuva
Pra aguar minha plantação
Que o meu gado está morrendo
E minha plantação se acabando
Meu dinheiro sem valor
Minhas barragens secando
E estes romeiros bestas
Em você acreditando
Seu padre Cícero Romão
Espero você cumprir
Olhe eu tenho muito dinheiro
Sou o mais rico daqui
Domino seis municípios
No vale do Cariri.
Tenho catorze alambiques
Doze engenhos de rapadura
Oito fábricas de açucares
Dez vazantes de verdura
Três mil alqueiros de terra
Tudo passado escritura
Não acredito em castigo
Para acabar minha riqueza
Se acaso o tostão não der
Mande chuva com franqueza
E depois mande dizer
Quanto foi toda a despesa
Se você não mandar chuva
Daqui para o anoitecer
Se acaso amanhecer o dia
E nas minhas terras não chover
O tostão que eu lhe mandei
Você tem que devolver.
Das três para as quatro horas
Um temporal se formou
Com relâmpagos e trovões
E forte chuva desabou
Nas terras do fazendeiro
O que tinha se arrasou
Demoliu todos os engenhos
Não escapou nenhum tacho
Demoliu todas as barragens
Emendou rio com riacho
Seis mil cabeças de gado
Desceram de água abaixo
Foi-se mala de dinheiro
Com papéis e escritura
Paióis de milho e feijão
E campos de agricultura
Gado, fazenda e dinheiro
Se acabou toda a fartura
Na região habitava
Entre grandes e miúdos
Um cego e um paralítico
E também um rapaz mudo
Nesse dia ele falou
Disse oh meu Deus se acabou tudo
Dentro do grande aguaceiro
O aleijado nadou
No estrondo do trovão
O mudo também falou
No clarear do relâmpago
O rapaz cego enxergou
A casa grande caiu
E o fazendeiro escapou
Com a mulher e uma filha
Na casa de um morador
Onde tinha um oratório
E foi o único que restou
Com quatro dias depois
O mensageiro chegou
Trazendo só dois vinténs
E na mão dele entregou
E disse é o troco do tostão
Que o padre Cícero mandou
Ele ficou arrasado
Se acabou toda avareza
Não pode reconstruir
Mais sua grande riqueza
E o governo repartiu
Suas terras com a pobreza
Dizem que arrependeu-se
E ainda hoje é romeiro
Anda de noite e de dia
Feito um louco em desespero
Mas nunca pode acertar
Com o caminho do Juazeiro
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